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O FANTÁSTICO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Quando, em 1764, Horace Walpole escreveu "O Castelo de Otranto", nem de longe podia imaginar que estava inaugurando um gênero que seria conhecido por "romance negro" (ou gótico), abrindo as portas para a imaginação criadora de romancistas que seguiram sua trilha, fazendo surgir grandes literatura como "O Monge" de Matthew Gregory Lewis. A insólita incursão de Walpole no campo do terror, do maravilhoso e do fantástico, com ações passadas em sombrias catedrais e castelos góticos, estabeleceu as bases de um filão que é explorado até hoje e propiciou o surgimento de "Frankenstein", de Mary Shelley, e "Drácula", de Bram Stoker, consideradas obras menores da literatura, mas as únicas que perduram na memória popular, devido aos seus incríveis monstros "retocados" e explorados pelo cinema e pelos quadrinhos.

Mas foi o americano Edgar Allan Poe (1809/1849) que revitalizou o gênero iniciado pelos europeus, dando-lhe um cunho de verossimilhança ao introduzir o fator científico, sem abandonar a fantasia, elemento essencial das histórias apavorantes, realizando profundos mergulhos na morbidez da alma humana.

As histórias de fantasia (onde se inclui também a ficção científica encontraram, na era industrial, uma excelente acolhida em outros meios de comunicação. A própria história do cinema se confunde com a história do filme do terror. "A Chegada de um Trem â Estação" (1895), dos irmãos Lumiére, já assustava as moçoilas nas sessões do cinematógrafo com uma locomotiva que parecia saltar da tela.

Nos quadrinhos, o terror surge como gênero e objeto de estudo somente no início de 1950. Até então, algumas histórias com pinceladas horroríficas eram apresentadas em revistas de crimes, com o fantástico e o fantasmagórico limitados às origens dos super-heróis que proliferavam então. A regra quase geral era a morte do mocinho para ele se tornar um super-herói, que passava a vingar o mal, disseminando o terror nos corações dos malfeitores. Como eles tinham por missão exterminar o ml na Terra, suas aventuras estariam garantidas para todo o sempre.

Em 1948, William M. Gaines herda do pai a E. C. (Educational Comics), editora especializada em revistas educacionais. Com a contratação de Al Feldstein como editor e uma turma nova de desenhistas, a E. C. tenta explorar novos campos com o lançamento de revistas de amor, bangue-bangue e crime. Em menos de um ano, Gaines já rompia com a lista de tabus da editora.

Gaines e Feldstein imaginam, então, um novo tipo de revista destinada a chocar os leitores com aventuras de terror e suspense. Algumas histórias foram incluídas na revista de crime e o sucesso foi imediato. Nasceram daí, no inicio do 1950, duas publicação. - "The Crypt of Terror" e "The Vault of Horror" - que são o marco definitivo do novo gênero que hoje é clássico. Outras revistas no mesmo estilo se seguiram, reunindo uma equipe que Influenciou toda uma geração e que levou os quadrinhos a um nível de sofisticação que só voltaria a ser alcançado novamente quase vinte anos depois. Harvey Kurtzman, Wally Word, Marrei Severin e Will Wilder, entre outros, tornaram essas revistas no maior campo de experiências estéticas da época e todas suas conquistas foram imediatamente absorvidas pelos anêmicos super-heróis já um tanto esvaziados nessa época.

Gente nova, de mente aberta, continuava seu processo de criação e evolução até que, em 1954, na época da caça às bruxas feita pela Comissão de Investigação chefiada pelo Senador Joseph McCarthy, os quadrinhos de terror, como havia acontecido com outros campos das artes. foram acusados do instrumento do comunismo em sua luta para desvirtuar a juventude americana, seguindo-se um processo kafkiano e, posteriormente, um Código de Ética, que visava especialmente a linha da E. C. e que praticamente impunha o estilo a ser adotado pelas revistas de quadrinhos. Isso não causou a morte do gênero, mas apenas o deixou em estado cataléptico. Bem aos moldes, aliás, das histórias de terror.

Mas o Código levou quase 15 anos para ser desafiado, colocado em questão e combatido. Os quadrinhos, após sua fase de ouro dos 30-40 e da renovação dos 50, passavam por uma fase apática até ressurgir totalmente, na década passada, com a criação de novas revistas que tentavam enfraquecer o Código e com o surgimento dos primeiras manifestações underground, que simplesmente o ignoravam.

Em 1958, James Warren, um publicitário da Filadélfia, inicia uma manobra com vistas a enfraquecer esse Código, lançando a revista "Famous Monsters of Filmland", com histórias sobre filmes de terror, fotos de filmes e reportagens sobre monstros do cinema. Após o período de experiências, Warren sentiu-se seguro para em 1964, lançar a revista "Monster World", no mesmo estilo da anterior, só que apresentava a quadrinhos do filme "A Múmia", de 1931. Os quadrinhos de terror, alvo principal dos combatentes das HQ estavam de volta!

Tudo isso resultou nas revistas "Creepy" e "Eerie", lançadas em 1965, com alguns meses de diferença, pela mesmo Warren. E é dessa última que estamos publicando o presente material, que vocês vão ler e se extasiar.

Nessas histórias, como em 1950, o terror serve do campo de experiências estéticas, com a absorção do novos valores, como os desenhistas filipinos que invadiram os Estados Unidos (entre eles, Nestor Redondo e Alfredo Alcala), artistas espanhóis (como Esteban Maroto e Ramon Torrentes) e até mesmo a velha-guarda (como Wally Wood).

Nelas, existe a mesma abordagem, a criação de sensações com o intuito de transmiti-las ao leitor. Apenas isso.

Nelas, existe o elemento fantasia, imprescindível a qualquer ser humano, um mundo de fábulas para adultos que não se enternecem mais com a violência dos contos da Carochinha adocicados via Walt Disney.

Nelas, desde o mínimo detalhe dos desenhos minuciosos até a última linha de texto, tudo é criado para mexer com o leitor, com suas emoções, com seus temores.

Nelas, há um mundo mágico improvável, mas possível. Estranho, mas provável. Emoções que todos carregam dentro de si, como o medo,

Está tudo aí: as histórias de clima, o horror gótico, o choque, a ameaça. Mas, acima do tudo, belos momentos da criação de artistas sensíveis, inquietos, sempre à procura do novo, e que, mais uma vez, vão impondo sua marca renovadora. O terror, como há vinte anos, volta a deixar as pegadas inconfundíveis de sua influência, dentro da mesma tradição, na história ainda tão nova dos quadrinhos.


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Última atualização: Tuesday, 12 January 1999.